Confira dicas de especialistas para fazer sua reeducação financeira

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Da mesma forma que para emagrecer e ter uma vida mais saudável é necessário mudar os hábitos, se reeducar financeiramente também requer atitudes novas. Mas, em vez de excluir o chocolate do cardápio, de reduzir a quantidade de gordura ingerida e frequentar a academia, no orçamento, a ponderação toma o lugar dos gastos extras.

Embora a regra já seja conhecida pelos adultos, muitas vezes não é colocada em prática, dando margem para a inadimplência e o endividamento. Em casos como esse, compreender o próprio orçamento é o primeiro passo para a mudança. “As pessoas sabem como economizar, mas poucas o fazem”, explica o consultor Álvaro Modernell. De acordo com ele, identificar que está com um problema financeiro é o mais difícil. “É imprescindível aceitar que há uma dificuldade em relação ao dinheiro e mudar com ações concretas”, complementa Modernell.

A palavra-chave para diminuir os gastos e ter uma reserva de capital para as emergências é controle. “Nunca compre nada sem pensar e, de preferência, espere de dois dias a uma semana para decidir se precisa ou não do produto”, recomenda o consultor. Mesmo com as informação ao alcance, os consumidores ainda se endividam por terem vergonha de pedir ajuda. É o que diz o professor de Educação Financeira do Instituto Dsop, Adenias Gonçalves Filho. “As pessoas não querem assumir para outras os problemas financeiros e isso atrapalha muito na resolução”, resume.

O professor conta, ainda, que inaugurou um curso para empresas no qual os funcionários pedem orientações a ele por meio do telefone. “São pessoas que já atingiram a idade adulta, por volta dos 35 anos, que esqueceram as regras básicas da Educação Financeira e precisam ser reeducadas, mas ficam receosas de serem julgadas”, acrescenta.

Os erros que ele mais escuta são a falta de uma poupança, o uso do cheque especial como renda, o excesso de financiamentos e o impulso nas compras. Mas o consultor Eduardo Machado explica que esses hábitos são fáceis de abandonar. “Não é necessário abrir mão de nada, apenas substituir por outras atitude”, recomenda.

Machado cita o lazer como exemplo. Segundo o especialista, se a pessoa vai ao cinema toda semana, ela pode reduzir para duas vezes ao mês. “O ideal é procurar atrações gratuitas, mas não deixar de se divertir, já que uma rotina restritiva é difícil de ser seguida”, reconhece. Ele acrescenta, ainda, que o mais importante é a força de vontade. “Sabendo o que se quer, é possível fazer mudar”, garante.

Controle gera redução de 30% no bolso

Com a vinda de Arthur, hoje com quatro meses, os pais Diego Reis, 31 anos e Nathalia Lacerda, 29, tiveram que mudar não apenas a rotina da casa, mas o orçamento também. O fotógrafo conta que a adaptação foi difícil, mas necessária. “Não tem como levar o mesmo ritmo, cortamos muitas atividades”, confirma. Entre elas, o casal deixou de comer fora sempre para cozinhar em casa.

Mesmo assim, Reis assume que ainda cometem alguns deslizes. “Eu e minha esposa somos viciados em perfumes, então continuamos comprando, mesmo quando não podemos às vezes”, comenta rindo o morador de Vila Isabel. Já na casa da diretora da Mundo Contábil Assessoria, Simone Fragoso, 38 anos, o controle é mais visível. Ela contabiliza os gastos da família, composta pelo marido, 44, Diego, 17, e Beatriz, 4, em uma planilha no computador.

“Passei a fazer eles controlarem tudo quando nos mudamos de aluguel mais baixo para um mais alto e a economia foi de 30% mensalmente”, afirma. Além disso, a família é educada para não deixar as luzes acessas, não usar mais água do que o necessário e conter as compras pessoais.

Brasileiro poupa menos

O brasileiro está poupando menos em 2014. É o que dizem os números da caderneta de poupança e dos fundos de investimento do primeiro semestre deste ano. As captações líquidas somadas dessas modalidades, que estão entre as mais acessíveis ao pequeno investidor, caíram de R$119 bilhões nos primeiros seis meses de 2013 para apenas R$ 11,5 bilhões no mesmo período deste ano.

O consultor Eduardo Machado explica que há uma grande oferta de crédito e as pessoas estão endividadas. “O governo ofereceu muito, mas não deu educação. O resultado é uma população que recebe apenas para pagar contas”, diz. Segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), o endividamento das famílias foi a 63% em julho, última medição do indicador, contra 62,5% em junho.

Entre as dívidas captadas pela pesquisa estão cartão de crédito, cheque pré-datado, carnês, financiamentos de carros e imóveis, cheque especial, crédito consignado ou pessoal, entre outros. Entretanto, de janeiro a julho, a caderneta de poupança captou R$ 13,64 bilhões, segundo o Banco Central (BC). O valor, 63,7% menor que o do mesmo período de 2013, é também o mais baixo para a primeira metade do ano desde 2011.

Deixe as contas no azul

1 – Faça os serviços domésticos, evitando contratar empregadas, diaristas e jardineiros. Nesses casos, o custo mensal pode reduzir consideravelmente usando apenas algumas horas do seu dia.

2 – Pondere as compras. Você realmente precisa ter mais um par de sapatos? Faça a pergunta antes de comprar o produto por impulso e deixar guardado no armário. Pensar antes de gastar dinheiro é o primeiro passo.

3 – Verificar o quanto você gasta ao mês, semestre ou ao ano em tarifas bancárias é um bom indicador se o banco está corroendo suas finanças. Se discordar dos valores pagos, busque outros bancos.

4 – Reduza os gastos com as contas básicas. Quando sair de um cômodo, desligue a luz. O mesmo vale para a água, já que não há necessidade de escovar os dentes com a torneira aberta, por exemplo.

5 – Não use o cheque especial como renda extra. A modalidade é um empréstimo que o banco oferece, mas os juros são os maiores entre os produtos financeiros, até mesmo que do cartão de crédito.

6 – Liste todos os seus gastos. É muito mais palpável quando há um documento com as despesas expostas. Dessa forma, você saberá exatamente quais cortar e o que pode manter no orçamento.

7 – Coma mais em casa do que na rua. Além de economizar, estar na cozinha pode se transformar em um momento de prazer. Leve a família para o cômodo e faça um almoço em conjunto, por exemplo.

8 – Estabeleça metas de poupança para a realização de sonhos e para ter uma reserva financeira destinada a cobrir imprevistos. Pagando à vista é possível negociar preços.

9 – Estabeleça limites de gastos para cada categoria de despesa e acompanhe ao menos semanalmente se os gastos estão evoluindo dentro do limite definido. Repensar é uma das recomendações.

10 – Requisite a participação de toda a família, inclusive os filhos. Peça ajuda a todos os membros, para que eles se sintam também responsáveis pela saúde financeira da família. Assim, ficará mais fácil estabelecer o orçamento familiar.

Não fique no vermelho

1 – Usar o cartão de crédito como forma de financiar as compras é muito perigoso para o orçamento. Além dos juros altos, as parcelas se unem e a dívida pode ficar mais alta do que você espera no fim do mês.

2 – Quando não há um controle claro das despesas, é muito mais fácil se enrolar. Saiba exatamente em quais itens você está usando o seu dinheiro e não tenha surpresas desagradáveis para o bolso.

3 – É preciso ter hábitos que sejam equivalentes ao quanto você ganha. Se você recebe um salário mínimo, não tem como sustentar idas aos restaurantes mais luxuosos da cidade, por exemplo.

4 – Um erro muito comum é não pensar na aposentadoria. Mesmo que guardar dinheiro para o período diminua o seu orçamento, é necessário olhar para o futuro para tentar manter o mesmo ritmo de vida.

5 – Não esqueça das festas e não deixe para comprar o presente na véspera. Todo ano tem Natal, Páscoa e outras datas comemorativas, então prepare-se. Seu filho já disse o que deseja? Vá guardando o dinheiro.

6 – Além de evitar dívidas, ao comprar à vista o consumidor consegue ter noção do dinheiro que está gastando. O carnê, por exemplo, dá a impressão de que você tem mais dinheiro do que realmente possui.

7 – Passar os seus ensinamentos financeiros aos seus filhos é muito importante. A mesada é uma forma, mas lembre-se: é necessário que haja controle, só assim ele aprenderá de forma prática.

8 – Muitas pessoas têm os sonhos de comprar um carro e ter a casa própria. Mas qual é a sua prioridade? Pense no que trará mais estabilidade para a sua vida e programe-se, sem comprar no impulso.

9 – Não viaje se você não tem uma reserva. O ideal é programar o período, pelo menos, seis meses antes do embarque. Dessa forma, é possível economizar até 50% nas passagens e na hospedagem.

10 – Ter um investimento é uma das formas de não entrar no vermelho. Aplicar o dinheiro e ter um retorno gera uma multiplicação do dinheiro investido. Estude o melhor segmento para você e aplique

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